terça-feira, 20 de outubro de 2020

GILSON NOGUEIRA: Os 24 anos da memória de um ilustre macaibense que serviu ao povo e à justiça

 

 
Hoje, 20 de outubro de 2020, faz 24 anos que o advogado Gilson Nogueira de Carvalho foi covardemente assassinado, vítima de emboscada, quando se dirigia para a sua residência na cidade de Macaíba, na madrugada do dia 20 de outubro de 1996. Gilson Nogueira era advogado do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular (CDHMP) de Natal, o qual participou ativamente no combate a um grupo de extermínio existente no estado do Rio Grande do Norte, o qual atuava principalmente em Natal.
 
Gilson Nogueira nunca defendeu crime algum. Como defensor do Direito, sempre atuou na defesa da pessoa, para que todo aquele que fosse acusado de crime, não fosse assassinado sumariamente, sem que de fato pudesse responder o devido processo legal, com direito a ampla defesa, como assim prevê a Constituição Federal. 
 
De acordo com a lei, o exercício da advocacia é indispensável na administração da justiça, ou seja, além do promotor e do juiz, se faz necessário ter um advogado, pago particularmente ou pago pelo estado, mas, tem que ter. Ninguém pode ser acusado e julgado sem que haja um advogado para defendê-lo, pois, se assim fosse, o Brasil não seria um Estado democrático de direito, mas sim, um Estado totalitário, um Estado de regime ditatorial, onde prisões e sentenças são determinadas de forma injusta e desigual.
 
Se você critica que haja um advogado presente em alguns processos, é porque nunca se imaginou ser acusado de um crime que não cometeu. Já imaginou alguém circular nas redes sociais um fake news com a sua foto, dizendo que você cometeu crime hediondo? Já imaginou a proporção que isso tomaria até você reverter isso? E se não conseguisse? No Brasil muitas "justiças com as próprias mãos" foram feitas ao longo do tempo, e, em alguns casos, as investigações deram conta que se tratava de pessoa inocente. Como dizer para quem estar no cemitério, que ele ou ela é inocente? Diante disso, a luta de Gilson sempre foi na defesa dos direitos humanos e das garantias individuais, independente de pessoa ou crime. Por outro lado, se as leis são frouxas, isso é culpa do Congresso Nacional, que criam as leis, e não dos operadores do Direito.
 

Rua Gilson Nogueira - Conjunto Alfredo Mesquita - Macaíba. Fonte: Google Maps

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Semana passada tive o prazer de caminhar pela rua Gilson Nogueira na companhia de familiares de Gilson Nogueira. Não sei quem lhe conferiu a homenagem, a qual considero muito justa. Há de se observar que uma parte da rua é sem saída, numa clara demonstração que Gilson não tinha duas conversas, dois pontos de vista, pois ele não negociava direitos, tampouco recuava em seus posicionamentos.

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Outra observação marcante na rua, é a presença da flor "Xanana", a qual foi escolhida recentemente como símbolo da cidade do Natal, cidade essa que foi palco principal das lutas de Gilson. Essa flor representa solidez, perseverança e luta contra as adversidades, pois ela nasce sem ser plantada e cresce em ambientes difíceis, que outras plantas não nasceriam/cresceriam. A rua Gilson Nogueira é embelezada pela Xanana. A cada flor que nasce nessa rua, nasce também a esperança de dias melhores, onde injustiças não prevalecerão e onde a voz de Gilson Nogueira continuará a clamar e a ecoar em defesa dos menos favorecidos, em defesa dos injustiçados, em defesa do Direito igual para todos.

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 Mário Henrique e a filha de Gilson Nogueira, Luana Nogueira

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Ao passar pela rua, pude perceber a alegria e o orgulho de Luana Nogueira, a qual é filha de Gilson Nogueira. Luana estava vestida de branco e preto, numa clara mensagem de que a luta de Gilson continua. Aos macaibenses que não conheceram Gilson e a sua história, digo-lhes que Gilson foi um idealista, um dos mais ilustres macaibenses, um verdadeiro guerreiro que honrou com louvor a sua família, os amigos, sua cidade e a todos os que ele defendeu com a própria vida.

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Jornalista do Diário de Macaíba

 

 

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